Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE)
- Lucas Gatelli
- 28 de ago. de 2024
- 4 min de leitura
Confira os motivos de seu desencadeamento, os sintomas mais comuns, as complicações e principais medidas de tratamento.

O QUE É A DOENÇA DO REFLUXO?
A doença de refluxo é uma condição que afeta cerca de ¼ da população global, podendo afetar desde bebês até os adultos na terceira idade.
Essa condição ocorre, geralmente, quando o esfíncter esofágico inferior (EEI), que é um anel muscular, que atua como espécie de porta a separar o esôfago do estômago, está enfraquecido ou relaxa inadequadamente, permitindo que o ácido do estômago suba para o esôfago, causando azia e queimação.
HÁ CONDIÇÕES QUE PREDISPÕEM À DOENÇA DO REFLUXO?
Sim. Há condições como a obesidade, pelo aumento da gordura visceral (encontrada abaixo dos músculos abdominais), e a gravidez, por mecanismos mecânicos e hormonais da evolução da gestação, que aumentam sobremaneira a pressão intra-abdominal, e consequentemente promovem a redução do tônus do EEI;
Hábitos alimentares, que incluem desde maus hábitos, como a ingestão de alimentos gordurosos e condimentados, chocolates, refrigerantes e álcool; assim como a ingestão de outros alimentos usuais como os picantes, cítricos e derivados de cafeína. Estes elementos dietéticos tendem a aumentar o tempo de relaxamento da musculatura de transição entre o esôfago e estômago, mas não possuem efeito equivalente para todos os portadores da doença.
Alterações anatômicas como a hérnia de hiato, que ocorre por fragilidade da musculatura do EEI, com o consequente deslocamento do estômago acima do abdômen atingindo a região torácica.
QUAIS SÃO OS SINTOMAS MAIS COMUNS? EXISTEM SINTOMAS ATÍPICOS?
Os portadores da DRGE tendem a referir com mais frequência azia, sensação de queimação no peito, geralmente após as refeições. Mas, em alguns casos, há queixas de regurgitação, quando há retorno de líquido ou alimentos, principalmente nos afetados por hérnia de hiato, assim como, dificuldade para engolir, tosse crônica e rouquidão, dor no peito, halitose, ou até mesmo alteração no esmalte dentário.
EXISTE ALGUM RISCO SE O PORTADOR DA DRGE IGNORAR SEUS SINTOMAS E NÃO PROCURAR TRATAMENTO ESPECIALIZADO?
Existem algumas situações que podem, ocasionalmente, ocorrer nos portadores da DRGE, desde condições desagradáveis, mas também desfechos preocupantes. As esofagites erosivas, inflamações no revestimento esofágico pelo conteúdo ácido, são as complicações mais comuns, podendo variar de nível a depender da dimensão do seu acometimento, causando dor e dificuldade para engolir, e até mesmo estreitamento esofágico, dificultando a deglutição de alimentos sólidos. Em casos crônicos, em uma prevalência em torno de 7%, pode ocorrer a substituição do revestimento usual do esôfago por um tecido semelhante ao que reveste o intestino, condição conhecida como esôfago de Barrett, que aumenta o risco de desenvolver câncer esofágico.
O adenocarcinoma esofágico é o tipo de câncer de esôfago associado à DRGE, acometendo cerca de 0,6% dos portadores dessa condição, com fatores de risco influenciados pela existência de esôfago de Barrett, o tabagismo e a obesidade.
Em alguns portadores de condições crônicas respiratórias, a doença do refluxo pode provocar sintomas de tosse persistente, laringite, falta de ar, e até pneumonia por aspiração de conteúdo ácido.
MAS AFINAL, QUAIS OS TRATAMENTOS DISPONÍVEIS PARA A DOENÇA DO REFLUXO?
O tratamento da DRGE pode ser abordado de várias maneiras, por isso a importância de um gastroenterologista a guiar o tratamento ideal e personalizado.
A modificação no estilo de vida, apesar de muitas vezes ser a prática mais difícil, é sempre a primeira medida. A perda de peso, a mudança dos hábitos alimentares, assim como a compreensão dos alimentos que cursam com os sintomas, e os cuidados durante e após as refeições são medidas cruciais à melhora clínica. Para os portadores de hérnias hiatais recomenda-se mastigar bem os alimentos, não ingerir líquidos durante, mas sim entre as refeições, realizar mais refeições ao longo do dia, mas em menores porções, respeitar ao menos 2 horas de intervalo entre a última refeição e a hora de dormir.
Quanto à terapia farmacológica, inicialmente, por algumas semanas, podemos lançar mão de inibidores de bomba de prótons, os famosos “prazóis”, os bloqueadores ácidos competitivos de potássio, que é o caso da vonoprazana, e os bloqueadores H2, que é o caso da famotidina, pois reduzem a produção de ácido gástrico, e depois reavaliamos sua continuidade em doses menores ou dias alternados. Ocasionalmente podemos utilizar antiácidos ou géis cito protetores, como o sucralfato, após as refeições ou antes de dormir para amenizar ou prevenir sintomas de queimação.
Em raros casos, quando os sintomas são refratários às medidas farmacológicas, e há comprovação de que os sintomas persistentes são definitivamente secundários à DRGE, avalia-se em conjunto com a equipe cirúrgica a realização de fundoplicatura laparoscópica, procedimento que reforça o esfíncter esofágico inferior.
Novas técnicas minimamente invasivas com manejo endoscópico vêm sendo estudadas para os casos refratários. Há alguns estudos promissores demostrando benefício com técnicas tais como a esfincteroplastia endoscópica e as cirurgias de refluxo endoscópicas, com bom perfil de segurança e excelentes resultados na qualidade de vida dos pacientes.
Para maiores informações sobre esse tema, que certamente gera muitas dúvidas, agende uma consulta comigo que irei ter o prazer de lhe acompanhar.



Comentários