Intolerâncias Alimentares e Alergias Alimentares: Compreendendo-as e Gerenciando-as
- Lucas Gatelli
- 29 de ago. de 2024
- 4 min de leitura

Afinal, qual a diferença entre intolerância e alergia alimentar?
A intolerância alimentar está relacionada à dificuldade na digestão ou metabolização de um determinado alimento, e a severidade dos sintomas está diretamente relacionada a quantidade de alimentos ingeridos, com sintomas similares a cada exposição deles. As intolerâncias são um conjunto de reações adversas alimentares, que cerca de 15-20% da população. Geralmente são mais comuns entre portadores da síndrome do intestine irritável e outras doenças funcionais, com 50-80% reportando problemas consistentes com determinados alimentos.
Em oposição, as alergias alimentares envolvem o sistema imune. Para os alérgicos, pequenas quantidades do alimento podem causar reações severas, com possibilidade de afetar vários sistemas do organismo. O trato gastrointestinal é, geralmente, a parte mais afetada, mas, como as alergias tendem a ser imprevisíveis, há possibilidade de progredirem para quadros de anafilaxia, com alto risco de vida.
Quais são os sintomas mais comuns nas intolerâncias alimentares?
Os sintomas mais comuns das intolerâncias alimentares são inchaço e dor abdominal, diarreia, constipação e excesso de gases
Quais são as intolerâncias alimentares mais conhecidas?
As mais comumente diagnosticadas em consultório são:
Intolerância à lactose, após o consumo de elementos lácteos na dieta;
Intolerância à frutose, substância encontrada em frutas e adoçantes a base de frutas, como o xarope de milho com alta frutose;
Intolerância a carboidratos fermentáveis de cadeia curta, os famosos FODMAPS;
Sensibilidade ao glúten não celíaca, em que os pacientes sentem intenso desconforto com a exposição ao trigo e a cevada, mas não apresentam marcadores sorológicos compatíveis, ou atrofia das vilosidades visualizável à endoscopia.
Quais são as alergias alimentares mais comuns em consultório?
As causas de alergias alimentares imunomediadas mais comuns, diagnosticadas em consultório, são:
Síndrome alérgica oral, afetando até 5% da população global, com sintomas de coceira, lábios, língua e garganta inchados após a ingestão de frutas e vegetais crus, e ocasionalmente algumas oleaginosas;
Alergia a frutos do mar, afetando cerca de 1-2% da população global, e comumente relatada após exposição a certas espécies de peixes, mariscos, crustáceos;
Alergia ao amendoim e outras oleaginosas (nozes, amêndoas, avelãs, castanhas e pistache);
Alergia às proteínas do leite de vaca, principalmente à caseína e soro do leite, com diagnóstico já na pequena infância, com sintomas de urticária e perda de peso, assim como refluxo, vômitos, cólicas abdominais, diarreia, e ocasionalmente sangue nas fezes;
Há, ainda, outras alergias alimentares não mediadas por imunoglobulinas, como:
A doença celíaca, uma enfermidade do intestino delgado associada à sensibilidade ao glúten (proteína associada ao trigo e a cevada, principalmente), afetando cerca de 1% da população global. Essa doença causa atrofia das vilosidades intestinais, e, consequentemente, diarreia e sintomas de má absorção (fezes gordurosas, perda de peso, deficiência de nutrientes e vitaminas), assim como anemia, osteoporose, alteração neurológica e hepática, e até mesmo linfoma intestinal.
A esofagite eosinofílica, condição alérgica que afeta 12,8 pessoas a cada 100 mil habitantes, geralmente na faixa etária dos 20-30 anos. A sua associação com alimentos alérgicos como derivados do leite de vaca, ovos, soja e oleaginosas é bem documentada. Os sintomas mais comuns incluem dificuldade para engolir, refluxo refratário, impactação alimentar e dor no peito.
Como é possível descobrir a existência de intolerâncias ou alergias alimentares?
O diagnóstico preciso de intolerâncias e de alergias alimentares se dá a partir de uma avaliação médica criteriosa, que contemple a história dos sintomas informados, desde o período de início deles, assim como a relação dos gatilhos que mais comumente lhe dão origem, e que poderão ser registrados num diário alimentar, com vistas à identificação posterior de um padrão.
Exames laboratoriais, testes respiratórios ou testes cutâneos podem sugerir ou confirmar deficiências enzimáticas e alergias alimentares. Ocasionalmente, pode-se lançar mão de exames endoscópicos para avaliação da mucosa esofágica, no caso da esofagite eosinofílica, de avaliação das vilosidades intestinais, no caso da doença celíaca, e, eventualmente, de avaliação do intestino grosso, a bem de descartar outras doenças inflamatórias que possam ser a causa das queixas.
Na ausência de exames clínicos alterados é possível realizar testes de exclusão, em conjunto com especialista em nutrição, com a eliminação da ingestão de certos alimentos, e reintrodução gradativa, com vista à observância de reações.
Quais as medidas mais adequadas para o gerenciamento e tratamento das intolerâncias e alergias alimentares?
Após a identificação da intolerância ou alergia alimentar é importante seguir a dieta de eliminação com certo rigor, com a busca de alternativas nutritivas que substituam alimentos problemáticos.
A suplementação enzimática pode ajudar, em alguns casos, na digestão de certos alimentos, como é o caso da lactose e da rafinose, elemento pertencente ao grupo dos FODMAPS.
Nesse campo, a biotecnologia tem avançado muito, pois têm sido criadas enzimas mais eficazes na digestão de certos alimentos, como é o caso da doença celíaca, que não possui outro tratamento senão a exclusão completa do glúten da dieta. E outras terapias microbiológicas, com estudos sobre a microbiota intestinal, sugerindo que a modulação da flora intestinal possa melhorar os sintomas de intolerâncias alimentares.
Para mais informações sobre intolerâncias e alergias alimentares, assim como estratégias de seu manejo, agende uma consulta comigo que irei ter o prazer de lhe orientar.
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